sexta-feira, 24 de julho de 2015

O que importa, afinal: o tipo de parto escolhido ou o sucesso do nascimento do bebê?

A resposta, em alguns casos, não é tão óbvia assim!


Durante toda a minha gestação, eu li, pesquisei e estudei muito. Não só sobre o desenvolvimento do meu bebê, mas sobre todo o aspecto social, afetivo e psicológico de uma gravidez e do puerpério.

Mas, ao mesmo tempo em que estudava, ouvi algumas coisas de pessoas que não sabiam o que falavam! E, obviamente, quanto mais me aprofundava nos temas, mais me dava conta disso... E pasmem: não eram só leigos que falavam coisas sem sentido, ouvi de alguns médicos também coisas absurdas e que não tinham qualquer amparo científico.

Enfim, percebi que informação de qualidade e confiável é tudo!
Percebi também que todo esse emponderamento como mulher e como mãe foi para descobrir a força que existe dentro de mim e me ajudar a fazer escolhas que preservassem o meu próprio bem-estar e, principalmente, o do meu filho.  

Mas, somente perto do final desta jornada, foi que pude materializar o princípio de que o parto escolhido em si (e cada detalhe que envolvia o seu universo) não era o objetivo principal de fato. O importante era ter serenidade e bom senso para fazer as escolhas necessárias para que a VIDA e a SAÚDE do meu bebê e minha estivessem nas melhores condições possíveis.

Parece óbvio, mas tenho visto casos onde algumas pessoas parecem colocar o tipo de parto escolhido em um "pedestal", esquecendo que o mais importante é a integridade física e psicológica da mãe e do bebê.

Confesso que, inicialmente, ao fazer meu Plano de Parto, eu não havia colocado nada referente a uma "possível" cesariana necessária. (Veja aqui o que é um plano de parto e porque fazê-lo). Para ser bem sincera, além de ter chegado à conclusão de que um parto normal era a melhor opção para mim e para o meu filho, eu tinha pânico de fazer uma cesariana! De ser cortada, dos pontos, da cicatrização, do pós-operatório... Enfim, de tudo!  Na minha cabeça eu só pensava: claro que vou ter um parto normal! Estou me preparando para isso!

Foi somente depois de assistir a uma palestra de uma doula, que eu parei realmente para pensar com clareza que nem sempre tudo ocorre como planejamos ou desejamos... (Aliás, quase nunca!)
Na palestra, a doula dizia mais ou menos assim: "A cesariana já salvou muitas vidas! É para isso que ela existe... Quando mãe e/ou filho estão em risco de morte, a cesariana pode ser a cirurgia que irá salvá-los!"
Gente, aquilo foi um choque de realidade para mim e um nocaute nas minhas “certezas” sobre o nascimento do meu filho!

Passei a questionar: e se houver alguma complicação durante o trabalho de parto?? Eu estava preparada para encarar uma realidade tão diferente do que planejei? Como seria enfrentar algo que me causava tanto pânico?! E mais: como ficaria minha cabeça depois desta experiência?

A partir daquele momento, o tema "cesariana" ficou muito mais leve para mim... Pois eu não tinha dúvidas que o mais importante era a saúde e a vida do meu bebê! Então, se eu tivesse que “ir pra faca” para garantir estes aspectos, mesmo não desejando de jeito nenhum essa realidade, não pensaria duas vezes em ir para a mesa cirúrgica!

Sendo assim, incluí no meu Plano de Parto todos os procedimentos que gostaria e que não gostaria que fossem realizados, caso uma cesariana fosse realmente necessária (A versão final na íntegra, basta clicar no tópico "Mais informações" ao final do post).
E, também, cuidei de preparar minha cabeça caso a cirurgia viesse mesmo a acontecer, pois eu já tinha me conscientizado naquele momento que poderiam haver situações onde o procedimento cirúrgico seria a opção mais sensata e segura a ser feita.

Mas um pequeno grande detalhe fez toda diferença: eu tinha TOTAL confiança na minha médica! A plena certeza que ela só indicaria a cirurgia se fosse REALMENTE necessária. Isso fez toda diferença para eu me sentir segura e respeitada em minhas escolhas.

Felizmente (!!!), meu filho nasceu saudável, de parto normal hospitalar, sem nenhuma intervenção... E, claro, muitas coisas não aconteceram como eu havia planejado! Mas eu, poucas horas depois do parto, estava lépida e faceira andando pelo quarto da maternidade com meu lindo bebezinho no colo! Até o pediatra do hospital se admirou quando me viu no dia seguinte: “Ué, foi você que pariu ontem à noite?” De tão bem que eu estava! Rsrsrs...

Acho que por isso sinto tanto quando vejo mães que idealizaram seu parto normal, mas que, por algum motivo realmente indicado, tiveram que se submeter a uma cesárea... Vejo que muitas delas quase (ou de fato) entram em depressão por isso!

E toda essa frustração tem um motivo.... A meu ver, em seu emponderamento, aquela mulher só aprendeu do que era capaz, que deveria ser a protagonista do parto, que ninguém deveria dizer que ela não podia decidir sobre seu corpo... Mas, nesta caminhada de preparação, ela se esqueceu de que uma intervenção necessária pode sim ocorrer e com qualquer uma!! Pois, a cesárea existe para salvar vidas, quando isso é necessário, lembram?

Se até com pessoas que são defensoras ativas (e praticantes) do parto normal, muitas vezes necessitam de uma cesariana... Imaginem! Ironia do destino? Talvez... Mas, a Vida é meio irônica mesmo. Acho que para nos lembrar de que não podemos controlar tudo.

Sendo assim, eu continuo a me perguntar: quantas mulheres não pensam no plano B? Quantas não se frustram profundamente quando nada acontece como planejado? Ou pior: quantas tentam até o fim aquela opção que elegeram e acabam pondo em risco a própria vida e a do seu bebê?
Certa vez, após ser noticiada uma fatalidade decorrente de complicações em um parto normal hospitalar, uma amiga fez um sério e importante questionamento: será que existem mulheres que preferem manter o tipo de parto escolhido, mesmo que isto represente riscos reais e iminentes a sua vida e a do seu filho???

Ou seja, até que ponto esta pressão interna ou externa faz essa mulher perder o foco desta nova vida...? É tão importante assim "parir" ou é mais importante o sucesso do nascimento do seu bebê?

É algo a se pensar...

Por fim, se eu pudesse dar um conselho à uma mamãe, eu diria: prepare-se para receber seu filho, um presente Divino, mas o objetivo principal na jornada de uma mãe consciente e empoderada está na preservação da saúde e da vida do seu bebê e dela mesma!
Afinal, você não será "menos ou mais" mãe, ou o seu bebê "menos ou mais" amado pela forma como ele precisou vir ao mundo!!! 

O importante é a tranquilidade de saber que você fez o melhor possível: para os dois! ;)


Bjssss e desculpa o texto gigante!!! :D




Plano de Parto – Girllem Tomaz Vasconcelos

Trabalho de parto:
Presença de meu marido e da minha mãe (se ela puder).
Sem perfusão contínua de soro.
Exame de medição de dilatação somente quando de fato necessário, e por uma única profissional.
Liberdade para beber água e sucos enquanto seja tolerado.
Liberdade para comer algum carboidrato de rápida digestão enquanto seja tolerado.
Liberdade para caminhar e mudar de posição.

Liberdade para o uso ilimitado da banheira (se houver) e/ou chuveiro.
Monitoramento fetal: apenas se for essencial, e não contínuo.
Ocitocina e Analgesia: peço que não sejam oferecidos ocitocina, anestésicos ou analgésicos. Aceito sugestões quanto à ocitocina, mas eu pedirei os analgésicos quando achar necessário.
Movimentação de profissionais do hospital na sala de pré-parto e parto somente quando necessário. Gostaria de um ambiente calmo e sem muito barulho e, se possível, com uma luz agradável.
Todos os profissionais podem me chamar de Gi ou Girllem.

Parto (hora do nascimento):
Prefiro a posição semi-inclinada (quase sentada) ou cócoras sustentada.
Aceito outras sugestões caso as posições acima não funcionem.
Estribos ou perneiras: prefiro não usar em nenhum momento.
Prefiro fazer força quando me der vontade, em vez de ser guiada pelo processo. Gostaria de um ambiente especialmente calmo nessa hora.
Episiotomia: prefiro não ter (somente em caso de sofrimento fetal), e gostaria que o períneo fosse aparado na fase da expulsão.
Gostaria de ter o bebê (Victor) imediatamente colocado em meu colo após o nascimento e se houver necessidade de succionar as vias respiratórias (somente em casos de extrema necessidade), prefiro que seja feito enquanto ele está comigo.
Clampeamento do cordão apenas depois que parar de pulsar.
O pai cortará o cordão umbilical.
Antibiótico oftálmico ou nitrato de prata apenas depois do período de formação do vínculo (primeiras horas após o parto).

Após o parto:
Aguardar expulsão espontânea da placenta com auxílio da amamentação.
O Victor deve ficar comigo o tempo todo, mesmo para avaliação e exames, especialmente na primeira hora de vida do bebê (Golden hour). Exceto apenas em caso de indicação médica.
Liberação para o apartamento o quanto antes.
Alta o quanto antes.

Cuidados com o bebê:
Amamentação sob livre demanda, não oferecer água glicosada ou bicos.
Alojamento conjunto o tempo todo.
Pediatra faz avaliação no nosso quarto.

Caso a cesárea seja necessária.
Gostaria da presença do meu marido.
Tricotomia: prefiro não fazer.
Anestesia: peridural, sem sedação.
Gostaria da técnica da cesárea minimamente invasiva (Técnica de Misgav-Ladach).
Gostaria de ver a hora do nascimento, com o rebaixamento do protetor.
Após o nascimento, gostaria que colocassem o bebê sobre meu peito e que minhas mãos estejam livres para segurá-lo.
Amamentação o quanto antes, mesmo na mesa de cirurgia.


Agradeço a compreensão da equipe envolvida e por participarem desse momento tão importante para a nossa família!

Um comentário:

  1. Adorei! "O importante é a tranquilidade de saber que você fez o melhor possível para os dois", e o papel coadjuvante, mas importantíssimo do profissional que vai ajudar e passar essa segurança e confiança que o melhor está sendo feito. Posso dar só mais uma sugestão? :) Para mães mais "antigas", como eu e muitas, um plano de parto não é algo tão conhecido; coloca um link oficial ou de um blog sério nessa palavra: vai ajudar muito!!! E que bom que a poeira saiu do blog!!!! :) Beijos e parabéns mais uma vez - pelo parto e pelo texto... ;)

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